sexta-feira, 4 de abril de 2008

O dia da paz

Hoje é feriado por aqui. Em 4 de abril de 2002 acabou a guerra civil angolana, e por isso a data foi escolhida como o Dia da Paz. Comemoração importante num país que passou 27 de seus 32 anos de vida independente debaixo de armas.

O conflito em Angola foi um dos mais emblemáticos da Guerra Fria, e foi marcado pela insanidade, pela sede de poder e pelo ideologismo interesseiro típico desse período. “Veste minha camisa que te dou um fuzil” (e depois levo suas riquezas...).

Soviéticos e cubanos sustentavam o MPLA; EUA e Israel garantiam as armas da FNLA; EUA (de novo!) e África do Sul patrocinavam a UNITA.

No fundo, uma confusão despropositada de siglas sem sentido para a maioria dos angolanos, mas que rapidamente fez a cabeça deles, separando irmãos e vizinhos em inimigos e uma nação novinha em folha numa filial do caos.

Para conhecer os detalhes da guerra, leia os 3 post abaixo, fruto de pesquisa feita por F. e sua veia de historiador, que vem aflorando aqui na África...

8 comentários:

Anônimo disse...

" - O inimigo são os outros, percebem? Estes, os nossos, têm fardas e armas parecidas, mas não são exactamente iguais. Eles sabem distinguir. Mas eu não aprendi, porque há fardas diferentes, embora todas parecidas e são todas parecidas com as do inimigo. Uma grande confusão. Mas os outros, os que não são os nossos, são o inimigo.
(.......)
De uma coisa estava certo e não lhe agradava: se o seu filho Luzolo estivesse com os nossos, então Kanda estaria com o inimigo; ou vice-versa, o que ia dar exactamente no mesmo.
(.......)
- Mas então Kanda é dos nossos e o Luzolo do inimigo?
- Penso que sim. Pelo menos o Kanda é dos meus nossos, não sei quais são os nossos dos outros. "
Pepetela
Parábola do Cágado Velho

Anônimo disse...

Estou gostando muito do seu blog, parabéns.

Pri Ramalho disse...

Ei anônimo! Também li (e recomendo!) o livro do Pepetela. Pensei exatamente na mesma passagem quando escrevia este post, mas não tinha o livro comigo aqui em Luanda. Obrigada por citá-la!
P.

Viver em Luanda disse...

Caros P. e F.

Antes de vir para Angola pesquisei alguns temas e este foi um deles.

Suas informações precisam de ajustes em alguns pontos pontos:

A data de 11 de Novembro de 1975 já estava prevista no Acordo de Alvor, que garantiria a independência de Angola. Neste acordo estava previsto que seria formado um Conselho Presidencial integrado pelos três movimentos que lutavam pela independência e seria formado um Ministério com representantes da FNLA, MPLA e UNITA. E desde então eles participam do Governo.

Nesta data, em Luanda, Agostinho Neto declarou, em nome do MPLA, a independência de Angola. O rápido reconhecimento pelo Brasil desta independência favoreceu ao MPLA.

José Eduardo dos Santos não foi reeleito em 1992. Foi eleito nas primeiras eleições gerais realizadas naquele ano para a Assembléia Nacional, onde o MPLA obteve a maioria dos votos, e para a Presidência.

Nesta eleição, cinco milhões de eleitores inscritos votaram nas primeiras eleições livres e democráticas da história de Angola. Na primeira volta, José Eduardo dos Santos obteve 49,57% dos votos, e o seu principal rival, Jonas Savimbi, 40,07%. O terceiro candidato "histórico", Holden Roberto, não passou de 2,11% dos votos.

A UNITA rejeitou então o veredicto nas urnas e recorreu às armas sem esperar a segunda volta das eleições que havia de desempatar José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi.

Dos dezassete partidos presentes nas eleições legislativas de 1992, doze foram os que conseguiram pelo menos um assento e representação na Assembleia Nacional.

O MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) obteve 53,74%dos votos e 129 dos 220 assentos no Parlamento.

A UNITA (União Nacional para Independência Total de Angola), obteve 34,10% dos sufrágios e setenta assentos nas eleições legislativas de 1992. Esse Partido conta com quatro ministros e dez Vice-Ministros no Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN).

Por mais estranho que possa parecer mesmo os chamados partidos de oposição tem representação no Poder Executivo.

De acordo com a Constituição actual, o Presidente da República, ouvido os Partidos Políticos representados na Assembleia Nacional, nomeia o Primeiro - Ministro. O Primeiro-Ministro forma o Governo que é responsável politicamente perante o Presidente da República e a Assembleia Nacional.

O Presidente da República preside às Sessões do Conselho de Ministros e ao Conselho da República, seu Órgão de Consulta.

O Primeiro-Ministro dirige a acção geral do Governo, coordena e orienta a actividade de todos os Ministros e Secretários de Estado, representa o Governo perante a Assembleia Nacional e a nível interno e externo.

O GURN-Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, tomou posse a 11 de abril de 1997. A este governo constituído majoritariamente pelo MPLA, em conjunto com UNITA e as outras forças política com assento parlamentar cabe a reconstrução do País.

O Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, como o nome o diz, é composto por elementos provenientes de diversas formações políticas. Todos os ministros, independentemente do partido a que pertencem, têm tratamento igual e acesso a todas as questões, sendo as suas vozes escutadas nas questões que aos seus pelouros dizem respeito.

Era isso.

Forte abraço,

Anônimo disse...

Prezada p,
Eu ainda estou me preparando para ir, arrumando as malas. Seu blog e a literatura angolana estão fazendo parte dessa "preparação". Pepetela é 10, mas aceito outras indicações.
Forte abraço do "anônimo"
Maria José
mjc_martins@ig.com.br

Anônimo disse...

Maria José: Bem-vinda a Angola! Que bom que o blog está sendo útil pra você! Aqui vão outras sugestões de leitura:
-Estação das Chuvas e As mulheres do meu pai, ambos do Agualusa
-A gloriosa família, também do Pepetela
-Baía dos Tigres, do Pedro Rosa Mendes
-Another day of Life (só tem em inglês), do Ryszard Kapuchinsky

Abs,

P.

F. disse...

Viver em Luanda: Obrigado pelos detalhes. Abs, P. e F.

Nunu da Silva disse...

Gostei imenso do seu blog, ainda não tive tempo de ler tudo... mas espero poder acessa-lo mais vezes