terça-feira, 8 de setembro de 2009

E por falar em Baião...

Acabo de ler, de uma enfiada só, neste feriado de 7 de setembro no Brasil (independência? que independência?), a Branco de Quintal, do nosso querido amigo Fernando Baião, também morador desta casa. Crônica afiadíssima do que está a passar neste dias, é leitura obrigatória para todos aqueles que pretendem entender um pouco mais sobre Angola profunda. Não sei se é possível encontrá-lo ainda na Chá de Caxinde, que o editou - este me foi presenteado pelo próprio autor -, mas vale tentar. Para os mais curiosos, vai aqui um trecho, que publico sem a prévia licença do autor, na esperança de que não se aborreça.

"O tão falado Homem Novo parece que é cada vez mais velho, arrastando-se de muletas, come o que lhe dão, sobretudo o milho estragado, o frango deteriorado egripado, a carne das vacas loucas, bebe o leite com o prazo caducado, veste as roupas de fardo que a comunidade internacional envia generosamente. Toma medicamentos que já ninguém quer. Dorme com o lixo, acorda com a miséria. No entanto nem tudo é mau, fizeram-se algumas coisas boas, quanto mais não seja, a manutenção da unidade nacional e o alcance da Paz. Tentar corrigir muitos dos erros que se cometeram é um objectivo. A geração mais velha, a geração da luta contra o colonialismo, das matas, das prisões e da clandestinidade, da construção da independência, aquela que alcançou a paz e a tenta consolidar, já cumpriu o seu papel político e precisa passar o testemunho. Só se fala das coisas más, dizem alguns, mas o que se há-de fazer, dizem outros, as más são mais que muitas. A culpa foi da guerra, clamam outros, mas isso não justifica tudo, rebatem os inconformados. Ainda se ouve dizer que grande parte deles nada fazem, o que é mau, e nada deixam fazer, o que é péssimo mas atenção, muita atenção, a vítima nunca esquece o mal que lhe fazem. – Quem atira a pedra é quem se esquece mas quem levou a pedrada não se esquece."

5 comentários:

X disse...

F., o Baião é mesmo um assombro, não? Trecho fabuloso esse. Para a M.Jo, digo que tenho aqui o meu exemplarzinho, eviado desde Lisboa, numa longa travessia que durou 20 dias, e começo a ler mesmo já.
Abraços, amigos, de todo o canto, Angola, Portugal e Brasil, na ressaca da independência - e agora cheio de caças e submarinos franceses para defender a Amazonia, o Pre-Sal e a corrupção que é a mesma dos dois lados do mar.
X.

F. disse...

De fato X., nosso amigo manda muito bem nas letras.

m.Jo. disse...

X,
Vou fazer de conta que nem li isso, tá?
Vai tripudiando... minha vingança será maligna.

fernando baião disse...

m.Jo.
Por ser um dos elogiados deveria me remeter ao silêncio, mas se me deres a tua direcção ou algum portador de confiança, teria todo o gosto em te oferecer os meus livros. Neste momento, estou em Lisboa, em recuperação de saúde.Meu email, "fbaiao@netcabo.pt"
Kandandu

m.Jo. disse...

Ôpa!
É prá já!

Viu, X?