sábado, 22 de janeiro de 2011

Por pouco, Angola não deixou de falar português

O ex-presidente brasileiro José Sarney (85-90) escreveu este artigo na semana passada, publicado em vários jornais do país. Chamou-se a atencão este pormenor relativo à Angola. Seria isto mesmo, leitores da Casa de Luanda? Polêmica a opinião, ao meu ver.


JOSÉ SARNEY

Língua e ferrovia

Quando, em 1988, visitei Angola e conversei bastante com o presidente José Eduardo dos Santos, a guerra civil estava num dos seus piores momentos. Falamos, sobretudo, sobre o modelo atrasado e retrógrado da administração portuguesa. O presidente angolano pensava em fortificar e desenvolver as línguas tribais com o objetivo de extirpar o português. Fi-lo ver que a nossa experiência fora diferente. Aqui o português matou os dialetos, sobrepôs-se ao nheengatu, a língua geral, e serviu para consolidar a unidade nacional.
Assim, dizia eu ao presidente angolano, se os portugueses pouco deixaram em Angola, deixaram a língua, que a nova nação deveria utilizar para tirar todos os proveitos políticos, a unidade nacional e como instrumento para a educação e inserção no mundo com seus 400 milhões de falantes de português.

Helmut Schmidt dizia-me, há alguns anos, que o grande país que ia surgir na Ásia era a Índia, e não a China. Os ingleses tinham deixado na Índia o inglês, língua universal, e os chineses teriam que vencer a barreira da língua, com a dificuldade adicional dos ideogramas. A Índia tinha essa vantagem competitiva, que já pesava com os milhões de indianos falando inglês e ensinando em todo o mundo e com empregos disponíveis e facilitados em todo lugar.
O exemplo maior eram os "call centers", montados na Índia com preços baixíssimos e dominando os mercados, à frente o americano.
Aventurei-me a acrescentar outra dívida com os ingleses, a rede ferroviária gigantesca que eles, colonizadores, implantaram no vasto território indiano e que até hoje é a base de circulação da riqueza na região. A Índia tem hoje 81 mil quilômetros de ferrovias. Tinham eles à sua disposição o pioneirismo inglês dos caminhos de ferro, a fabricação de toda a linha técnica, desde a locomotiva, passando pelos trilhos, até a porca inglesa que aprisionava os usuários para sempre na conservação e na expansão das linhas.
O Brasil, inacreditável barreira na circulação da produção nacional, tinha 40 mil quilômetros há 40 anos e em vez de crescermos, regredimos para 29 mil. E, quando eu quis fazer a ferrovia Norte-Sul, foi uma reação brutal, principalmente dos setores paulistas, usufrutuários do modelo rodoviário que é o maior responsável pela poluição. Esse é um grande desafio.
Tivemos três presidentes com preocupação ferroviária. Eu, modéstia à parte, Geisel (ferrovia do Aço) e Lula. Dilma tem esse desafio pela frente na construção da estrutura e, ao que tudo indica, será uma presidente ferroviária. Afinal, independentemente da língua, as ferrovias são essenciais. Foi o trem o transporte do passado e será o do futuro.

4 comentários:

Menina de Angola disse...

X, Feliz ano novo! Engraçado vc falar disso, logo esse semana, pois esses dias mesmo estavam a debater na rádio (no famoso taxi amarelo), se Angola deveria ou não ter as aulas de kibundu obrigatoriamente nas escolas...

Já ouvimos isso no Brasil quando se queria obrigar o guarani...

Parece que as histórias sempre se repetem.

bj

Anônimo disse...

Curiosamente, o Presidente Sarney deveria ter dito que Angola, entre a década de 60 e 70, foi o país a nível mundial com maior taxa de crescimento...

Exportações Notaveis de Café, Algodão, Sisal, Diamantes, o petróleo a começar a ser explorado, Madeiras, etc,etc...

José Sousa disse...

Menina de Angola! Toma nota do que já falou o outro comentarista antes! O "Anônimo". Ele falou a verdade! Quando vc diz que "Assim, dizia eu ao presidente angolano, se os portugueses pouco deixaram em Angola, deixaram a língua, que a nova nação deveria utilizar para tirar todos os proveitos políticos". Que eu saiba, quando os Portuguêses chegaram a Angola em 1486, as casas dos nativos era de pau a pique e capim! Já nos anos 60 o meu pai vendeu tudo o que tinha em Portugal para fazer florir essa Angola. E sempre que tentou enviar algum dinheiro para Porttugal, o governo de Salazar não deixava, era proibido! Todas essas belas cidades que aí conheci e aí ficaram, eram fruto de Portuguêses! Sabia Menina de Angola. Tire essa venda dos olhos e veja toda a claridade!

Um abraço

Daniela disse...

Concordo com o Senhor José de Sousa, estive em Angola, confesso que passei pouco tempo, mas a impressão que tive foi que quando Portugal entregou Angola aos angolanos, o país afundou.Nunca conheci um povo - nem estudei- que goste tanto de resolver as suas diferenças no facão!
Angola na epoca que era colônia era grade exportadora de café, algumas frutas, tinha uma gde alternativa de produtos para exportar. Concordo com os angolanos que eles deviam deixar de ser colonia claro, mais para isso eles deveriam ter estudado primeiro, para depois entrar no governo com a vontade de levar adiante o país que Portugal construiu ( como queriam governar um país sem o minimo depreparo?), sou brasileira, e ao meu ver- me corrijam se estiver errada- Portugal fez muito mais pela Angola do que pelo Brasil, sendo que qdo os tugas daqui sairam levaram quase toda nossa riquesa.Claro que isso trouxe alguns beneficios né. Mas nós não nos matamos, nem matamos ninguem para conseguir nossa republica. Concordo com o Senhor, Portugal ou os portugueses fizeram muito por Angola, pena que ao fazerem isso não deram educação ao povo para saber que uma raça ou nação vitoriosa é aquela que é unida !
Estarei voltando a Angola ainda esse ano . . . E volto com outros olhos. Com olhos de quem ja viu, qdo fui da outra vez, eu fui naquele encantamento de estar num lugar q foi palco de uma tremenda guerra civil - visto que aqui no Brasil a unica guerra q se tem noticias são as das gangues- Agora retorno como conhecedora isso é muito bom, o angulo e a perspectiva agora são outros

obrigada . . .

E uma nota ao autor ou autora desse blog ( desconfio q seja homem, pois escreve como um rsrs):

se possivel meu e-mail é : daniela-pfaria@hotmail.com

Gostaria muito de trocar e-mail com vc